8.10.09

Crédito a montadoras para vender mais?

José Walter Toledo Silva

R$ 8 BILHÕES PARA MONTADORAS?
13/08/2008. 

 

Em partes iguais, governo de São Paulo e governo federal destinam crédito de R$ 8 bilhões para financeiras de montadoras, no Brasil, braços de multinacionais sediadas nos EUA, Europa, Japão.

Essa é a notícia que ocupa as manchetes dos jornais de hoje.

Esse crédito é concedido quando as vendas, do período janeiro a outubro de 2008 das montadoras de veículos, apresentam crescimento de 23,4% em relação a igual período do ano anterior, registrando a marca histórica de 2,45 milhões de unidades emplacadas.

Sabe-se ainda que enquanto a indústria automobilística mundial apresenta elevados prejuízos, montadoras no Brasil e as respectivas financeiras apresentam lucro significativo, diminuindo as perdas ou contribuindo para o lucro dos acionistas do setor, no exterior.

Não é difícil deduzir que o elevadíssimo crescimento das vendas acumuladas até outubro é anormal, refletindo o crédito fácil, em moldes semelhantes ao fenômeno recente que conduz o setor financeiro em todo o mundo ao maior pandemônio de que se tem notícia desde 1929, pelo menos.

Não é possível que o expressivo aumento de veículos em circulação, tornando caótico o trânsito das grandes cidades, atenda ao interesse público.

Noticia-se a crescente inadimplência de numerosas pessoas que freqüentemente perdem os carros que estão sendo comprados, por não poder pagar as prestações. Como é possível, nessas circunstâncias, que a extensão do crédito para endividamento atenda ao interesse público?

E, nos casos de créditos ao consumidor, com riscos aceitáveis, por que não podem os mesmos ser obtidos através de recursos de bancos brasileiros privados, altamente rentáveis, beneficiados por estímulos governamentais recentes para aumento de liquidez?

O crédito, voltado ao aumento de vendas no mercado brasileiro, atende aos interesses das multinacionais do setor automobilístico, sem estimular as exportações, conforme seria do interesse do Brasil. Estas tendem a se reduzir diante de medidas de socorro e/ou protecionistas adotadas ou em planejamento em vários mercados no exterior.

Argumenta-se que os R$ 8 bilhões destinam-se a reverter a queda nas vendas no mês de outubro e a preservar a continuidade de elevado crescimento de vendas e manutenção de empregos no país.

Após o crescimento anormal observado, não há como impedir queda futura na taxa de crescimento e até mesmo no volume de vendas.

A eficácia do crédito concedido para objetivos de assegurar a continuidade de crescimento de vendas e manutenção de empregos, parece altamente discutível. Isto porque, o gargalo maior que se apresenta, para atingir esses objetivos, está na incapacidade de expressivo contingente de consumidores pagar os empréstimos contraídos.

Mesmo que R$ 8 bilhões ou mais, assegurassem emprego ou crescimento de vendas, é preciso questionar, se o emprego de recursos públicos para colocar mais veículos nas ruas atende ao interesse público.

É claro que o governo deve envidar esforços para minimizar os efeitos negativos de desemprego.

Ao mesmo tempo não se pode fechar os olhos para a necessidade de proporcionar renda a desempregados no cenário do século 21, de inevitabilidade crescente de desemprego, diante do impacto da tecnologia da informação, robótica, engenharia genética, racionalização de estruturas de empresas através de fusões (como ocorre nos setores automobilístico e financeiro).

Mas, em vez do socorro de questionável utilidade às montadoras, é preciso considerar prioridades para aplicação de R$ 8 bilhões. Para citar umas poucas, relacionadas a transporte: melhoria de estradas, hidrovias e ferrovias para reduzir os custos de nossa produção agro-industrial destinada aos mercados interno e externo, transporte público urbano e inter-urbano. Em outros possíveis itens dos orçamentos governamentais: educação para o trabalho, aberturas de frentes de trabalho mais condizentes com o interesse social, seguro desemprego, dentre outras.


Nenhum comentário:

Postar um comentário