José Walter Toledo Silva
Com todo o respeito pela opinião de cientistas políticos citados em artigo publicado hoje (22/07/2010) na Folha, com o título “1 em cada 5 eleitores não foi à escola ou é analfabeto”, discordo da conclusão sugerida de que esse grupo vota pior do que a elite intelectual ou econômica.
Não creio que haja base científica que permita afirmar que as elites (intelectual ou econômica) votem mais de acordo com o interesse público ou de grupos expressivos a que não pertencem, especialmente na defesa de direitos humanos e busca de oportunidades para os 27 milhões de eleitores que ou são analfabetos ou nunca freqüentaram a escola.
Em mais de um século de história da república, nossa bem alfabetizada elite, nos 3 poderes, muito pouco tem feito para mudar o triste fato de ser o Brasil um dos países do mundo que apresenta a pior distribuição de renda e oportunidades. Aqui, a grosso modo, apenas 20% das benesses cabem aos 80% de menos afortunados, enquanto que 80% de bens e serviços produzidos destinam-se a 20% da população.
Membros do executivo, legislativo e judiciário, em todas as fases da república, têm lutado pela defesa dos próprios interesses ou de grupos organizados influentes de setores da economia e da política, relegando, com raras exceções, o interesse do público menos favorecido ao segundo plano.
Todos os grupos, como regra, defendem seus próprios interesses. Os mais instruídos e ricos têm sempre obtido vantagens, muitas pagas com o dinheiro público e conseqüentemente por não instruídos e pobres. Assim, créditos vantajosos, como os destinados a fazendeiros, usineiros e outros empreendedores, universidades públicas gratuitas para elevado percentual de pessoas ricas, bolsas de estudos no exterior para pós graduação e doutorado, inclusive para quem acaba por fixar-se e trabalhar fora do Brasil, ultrapassam de longe benefícios que, segundo se alega, compram votos dos analfabetos ou não escolarizados.
Certamente concordo com a importância da educação e da escola para desenvolvimento dos indivíduos e da sociedade. No entanto, não acredito que com a disponibilidade generalizada de informação, inclusive pela televisão, possa-se afirmar que as pessoas sem instrução tenham menos sensibilidade e bom senso que as pessoas instruídas para julgar propostas de políticos e decidir em quem votar para defesa do interesse público e do grupo ao qual pertencem, em particular.
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Concordo com você, José Walter.
ResponderExcluirAposto mais na ética dos humildes do que na dessa elite formada pelas escolas de classe A...
M. Silvia