escrito em: 3/11/2008
José Walter Toledo Silva
José Walter Toledo Silva
Será maior o risco de procurar enxergar, do que o de desistir de fazê-lo, mesmo quando os caminhos são mal iluminados?
Será maior o risco de prognóstico incerto, do que correr o risco de não fazer nenhum prognóstico?
Na próxima quarta-feira o mundo acordará sob as manchetes na mídia da histórica vitória de Barack Obama.
Histórica, não apenas porque indicará o próximo ocupante do mais poderoso cargo do planeta, (após expressiva vitória com mais de 300 votos do colégio eleitoral ?, sendo necessários 270 para vencer), no país que se transformou na única super-potência, representando 1/3 da economia mundial.
Histórica não só pela votação inédita em Estados tradicionalmente republicanos e pela governabilidade conferida pela maioria Democrata no Congresso.
Histórica não só por representar a eleição do primeiro negro, a cargo de tamanha magnitude, aos 47 anos de idade.
Histórica não apenas pela forma inédita de campanha eleitoral democrata, com fundos provenientes de milhões de doadores e uso como nunca se viu antes de recursos da tecnologia da informação.
Histórica, principalmente por representar apoio maciço tanto dos eleitores dos EUA, mas como de outros povos (conforme claro e expressivo resultado de pesquisas) às propostas de mudança de Obama, no momento em que o mundo vivencia um pandemônio financeiro e o distanciamento entre uma minoria de ricos e uma maioria de pobres e remediados, inclusive nos países mais desenvolvidos.
As prioridades de mudança de Obama, como se depreende da prolongada e exaustiva campanha abrangem:
Reverter os efeitos adversos do maior caos desde 1929, pelo menos, criado pela ação irresponsável de executivos financeiros que, no regime republicano de desregulamentação excessiva, se sentiram à vontade para especular com dinheiro dos acionistas.
Diminuir tributos para 95% da população, aumentando-os para os 5% mais ricos.
Eliminar, em 10 anos, a dependência dos EUA do petróleo do Oriente Médio, incentivando exploração profunda e formas alternativas de energia.
Proporcionar a cada pessoa a compreensão e o usufruto de assistência em saúde, educação e benefícios previdenciários, como direitos de cada cidadão.
Diálogo previamente preparado com inimigos, mas sem condições prévias.
Retirada do Iraque conforme cronograma a ser estabelecido.
Os problemas político-econômico atuais requerem reflexão e participação de todo cidadão. É preciso esforço de cada um para pensar e utilizar o bom senso para a melhor compreensão das seguintes questões, dentre outras:
A causa da crise financeira sem precedentes que resultou em socorros governamentais trilionários para estatização de instituições financeiras, deveu-se, em primeiro lugar, à irresponsável especulação em imóveis e commodities, baseadas no pressuposto de que o preço das ações seriam cada vez mais elevados.
As bolsas em todo o mundo tornaram-se "cassinos" de aposta, baseadas na crença do crescente valor futuro dos papéis negociados e não na expectativa da relação razoável preço/lucro de uma empresa.
As redes de empresas formadoras de grupos detém ações de empresas integrantes do grupo a que pertencem, colocando foco exagerado de seus investimentos nas perspectivas de valorização de ações de empresas, com base numa espécie de marketing das ações e não na rentabilidade saudável das operações de cada empresa.
Parece assim, relegado a segundo plano, o papel do mercado de capitais para a captação de recursos financeiros para formação de capital de empresas, sendo o mercado utilizado para ganhos especulativos de capital de curtíssimo prazo.
As especulações no mercado de instituições financeiras foram as principais responsáveis pelo preço recorde de mais de 140 dólares por barril de petróleo e elevação do preço de alimentos e outras commodities, em meados de 2008.
Assim, desfeito o castelo de cartas sobre o qual se estabeleceram esses preços, os mesmos despencaram, com o barril do petróleo atingindo menos de US$ 60,00 na última semana de outubro de 2008. Caiu por terra o falso argumento de que o crescimento econômico da China teria sido um dos causadores da elevação do preço do petróleo.
Isto porque, enquanto o preço do petróleo agora despenca, o crescimento anualizado da China, recua apenas de 10 para 9%.
A gestão temerária de muitas empresas tem-se caracterizado por aplicação de recursos de acionistas, inclusive de lucros não distribuídos, em especulação que nada tem a ver com o objeto do negócio.
No caso da crise atual, iniciada nos EUA, a gestão temerária de empresas deveu-se também à concessão de empréstimos hipotecários, sem a observância de princípios fundamentais de concessão e contabilização de créditos.
É preciso que se entenda que a precária distribuição de renda é o maior entrave ao crescimento econômico para benefício de todos. De nada adianta aumentar a renda média se não se aumenta a renda do contingente majoritário dos menos favorecidos para que possam ter 3 e não 1 refeição por dia, tomar ao menos 3 e não 1 cafezinho por dia, comprar 2 sapatos por ano e não 1 a cada 2 anos.
É uma grande falácia a idéia de que o bolo precisa crescer através de incentivos voltados primordialmente a gigantescas empresas, antes de ser distribuído, pois o maior gargalo ao crescimento econômico está no gigantesco contingente de pessoas que não dispõe do poder aquisitivo para fazer parte dos mercados consumidores.
O crescimento de empresas e da economia, depende do crescimento de mercados através de políticas distributivas e não o contrário.
Todos os impostos destinam-se a distribuição de recursos e as distorções precisam ser corrigidas através da formulação e execução de políticas tributárias. São estas políticas e investimentos do Estado, se necessários, que impulsionarão o desenvolvimento de mercados e o crescimento econômico através de melhor distribuição de renda.
As enormes oscilações, tanto positivas como negativas, em quase todos os mercados do mundo, durante a segunda quinzena de outubro de 2008, indicam que a despeito dos trilionários pacotes de socorro ao setor financeiro, em todo o mundo, os mercados continuam basicamente motivados por especulação.
Ainda que considerado o menos mal dos remédios, para resultados a curto prazo, a gigantesca intervenção de governos no setor financeiro trará efeitos colaterais negativos em termos déficit público e inflação.
Não deve o Estado tomar o lugar da iniciativa privada em setores em que a mesma pode atuar produtivamente, mas não pode o mesmo se omitir naqueles em que a atuação da iniciativa privada não é suficiente para proporcionar as condições essenciais ao atingimento de direitos fundamentais, como energia, infra-estrutura básica, alimentos, saúde, educação, habitação, previdência.
Será cada vez mais incompreensível que mega-pacotes de socorro, do tipo proporcionado ao mundo financeiro, não se estendam, quando necessário, à erradicação de pobreza, energia, água, saneamento, alimentos, saúde, habitação, previdência.
Para parcial remanejamento para aplicação voltada ao interesse social, como poderão os trilionários gastos militares mundiais na guerra e nos orçamentos de defesa serem reduzidos, em resposta à atual crise, a exemplo do que ocorreu nos anos que se seguiram à guerra fria?
Rascunho de 8/10/2008: cenário político- econômico mundial para próximos 10 anos:
Haverá uma uma redução no crescimento econômico em praticamente todas as regiões e todos os países.
Haverá uma uma redução no crescimento econômico em praticamente todas as regiões e todos os países.
Será substancialmente reduzido o ritmo de crescimento do comércio exterior.
As políticas governamentais colocarão o foco no desenvolvimento dos mercados internos, o que deverá provocar crescente mobilidade ascendente para as classes C/D e redução nos preços de alimentos.
Cairá o preço do Petróleo para o equivalente a cerca de $65,00 dólares de hoje, em razão de redução de especulação com essa commodity, desaquecimento econômico, investimentos em fontes energéticas alternativas, elevadíssima rentabilidade atual do setor. Conseqüentemente veremos estabilização ou queda no preço de commodities e de alimentos, cujo preço final depende significativamente de transporte e custo de petróleo.
A inédita intervenção dos Estados, que nas últimas semanas, atinge cerca de US$ 2 trilhões, só nos EUA (somando todos os socorros), se fará sentir em setores essenciais como Energia, Saúde, Previdência, Educação.
Coincidentemente com os Democratas no poder nos EUA, liderados por Barack Obama, veremos o fim da guerra no Iraque, o desenvolvimento acelerado de novas fontes de energia.
A integração política e econômica da Rússia na comunidade internacional, será um dos desafios prioritário da ONU. Os esforços da ONU, com o apoio dos Estados-membro, terão, como um dos maiores desafios, no fronte diplomático, a eficaz redução global e não proliferação de armamentos nucleares e de destruição em massa.
Irã e Coréia do Norte aderirão a pretensões de não proliferação nuclear em troca de substanciais vantagens econômicas.
No desenvolvimento de suas ambições de expandir o uso de energia atômica, apresenta-se, também para o Brasil, a oportunidade de condicionar sua adesão a cláusulas de tratados futuros de não proliferação à obtenção de vantagens econômicas paupáveis.
Será reduzida a concessão de crédito, bem como cairá o custo do dinheiro.
A elevadíssima parcela de custos financeiros, hoje embutida nos custos de bens e serviços finais, sofrerá substancial redução. Esse fator representará, na inflação, uma compensação, ao menos parcial, do efeito inflacionário dos gigantescos e inéditos subsídios de socorro às instituições financeiras. Estes são geradores de elevação dos déficits públicos e conseqüentemente de inflação.
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